domingo, 11 de outubro de 2009

A arte como instrumento de integração de comunidades locais





Foi o que vi no XIII Enearte – Encontro Nacional de Estudantes de Artes. Éramos de vários Estados, mas estaríamos juntos no mesmo espaço por uma semana. Barracas montadas, é hora de fazer a primeira apresentação: com vocês, PAU E LATA, diretamente da UFRN-Natal.


Assim começou a integração. Sons de paus e latas, que eu reconheço, que todos conhecem e podem participar. A música é entoada. A gente se mexe e se aglomera em volta. Foi só uma pequena “pala” do seu show.

Segunda noite e a apresentação já dura mais tempo. Ainda é só uma parte do que está por vir. Contudo, já deu pra saber que era muito bom. Deu pra ver quantos estavam envolvidos neste projeto. Deu pra sentir qual a nação que carregam no peito e cantam de coração: Mãe África! Semente de terra espalhada por vários continentes, seus filhos ecoam em sua voz a dor e a felicidade de serem negros.
De manhã, começa a oficina numa mata próxima. O som que atrapalha na cidade de cimento é bem vindo no seio da natureza. Eles se misturam e produzem novos sons. A lata vira banco enquanto o que sabe mais compartilha suas estórias. Silêncio, por enquanto, só na hora de dormir.
Na terceira noite, a comunidade do Pará, embalada pelo seu som, demonstra sua arte performática. A cena ficou belíssima! Parecia que tinham ensaiado, mas foi tudo de improviso. Logo em seguida, o Circo Tropa Trupe vem buscar os integrantes do Pau e Lata para um cortejo até a tenda do circo. Palhaços, equilibrista e malabarista se unem com a música porque o espetáculo vai começar!!!
Na quarta noite, véspera da Sinferia[1], uma apresentação mais caprichada para esquentar os motores. Cada instrumento, preso por uma faixa, parece uma extensão do corpo de cada integrante e os conduzem num movimento marcado. Os olhos e o apito são os guias de quem comanda. Tudo muito integrado entre si com o entorno. A comunidade do Maranhão não resiste e faz entra no compasso.
E, enfim, chegou o dia da apresentação. Os instrumentos são cuidadosamente organizados. Os integrantes se vestem de branco e de paz. Todos ficam ao redor aguardando o começo. Mesmo havendo atraso no horário do relógio, eles estão no tempo certo. Como convidadas, duas meninas dançam O Caboclinho do Rio Grande do Norte fazendo uma participação especial.
Depois de tantos shows e de tanto barulho, o que eles querem dizer com isso? Que, mesmo num mundo globalizado, tem espaço para todos. Que é preciso desarmar para que as comunidades se integrem entre elas e com o mundo. Que um grande elemento de integração é a ARTE. Sem rótulos, sem segmentos específicos, mas sim como uma forma de expressão artística carregada de elementos pertinentes a raça humana.

A arte que integra é aquela que está comprometida com o indivíduo enquanto produtor e receptor de uma cultura. Portanto, façamos uma análise do que somos nesse contexto. Que papel eu desempenho enquanto fruidor deste processo? Onde me incluo? Na transformação da teoria da Academia numa prática frutífera utilizando a Arte como uma forma de viabilizar todo esse conhecimento.

[1] Sinferia: nome dado ao show apresentado pelo grupo Pau e Lata no XIII ENEARTE em Salvador.

sábado, 3 de outubro de 2009

A fotografia e a realidade

“A força da fotografia residiu bem na sua capacidade reprodutiva e espelhante”[1] (HUCHET, 2004, p.15).

Considerando-se que o surgimento da fotografia delimitou uma nova era nas práticas artísticas e, em especial, na pintura, pode-se falar que sua funcionalidade vem evoluindo e atendendo as necessidades de expressão dos profissionais e artistas. Inicialmente pensada para desempenhar uma função específica de registrar visualmente, em tempo real, o que vemos, a fotografia foi aos poucos incorporando as intenções do operador do aparelho e ultrapassando limites não pensados, mantendo suas características essenciais a sua existência.

A fotografia revela a realidade visual e conceitual do fotógrafo. A câmera é um aparelho conduzido e, propositalmente, fixado num ponto-chave que dê visibilidade há um conceito previamente pensado e consolidado numa imagem ou, pode ocorrer, também, a captura da imagem e, depois, a sua análise e enquadramento dentro de um conceito. Independente da ordem, a fotografia é a representação imagética de um pensamento concretizada num produto. O processo de captura da imagem é o diferencial no produto final. Tais ações consolidam o processo de fotografar como uma tentativa de capturar o real inatingível se considerarmos árdua a tarefa de relacionar o individual com o coletivo.

Se a realidade vai além do que vemos, a fotografia é incapaz de registrá-la, porém nos dá a sensação do real quando observamos as semelhanças com aquilo que concebemos como tal. Essa capacidade é explorada pelos artistas que, utilizando recursos tecnológicos, produzem obras mesclando o real e o imaginário. Assim, a fotografia desempenha uma função importante dentro do processo de construção do conceito de arte contemporânea.

“A fotografia é realidade trabalhada por um conjunto de processos simbólicos”[2]. De acordo com esta afirmação, uma imagem é a consolidação de ações previamente pensadas desde a escolha do aparelho até ao repertório do fotógrafo. O resultado desta ação permitirá diversas possibilidades de leituras, além de suscitar novas experimentações.

Quando a realidade é aprisionada numa imagem torna-se um símbolo do que está contido na sociedade que, por sua natureza fluida e dinâmica, não nos permite fazer uma análise do processo de transformação dos elementos que compõe a realidade que nos cerca.

O livro do Flusser, A filosofia da caixa preta, aborda a fotografia sob um prisma ainda não explorado neste curso. Contudo, para que suas teorias conseguissem penetrar num universo artístico do ato de fotografar, seria necessária uma vivência mais intensa na prática do uso do aparelho que justificasse melhor suas afirmações. A densidade do seu discurso teórico teria maior propriedade se tivesse como coadjuvante um produção equivalente.



[1] HUCHET, Stéphane Denis Albert René Philippe . TAL QUAL, A FOTOGRAFIA. In: Dos Santos, Maria Ivone; Santos, Alexandre. (Org.). A fotografia nos processos artísticos contemporâneos. Porto Alegre: Prefeitura Municipal de Porto Alegre e Ed. da UFRGS, 2004 .

[2] Atílio Avancini: http://www.fotografiacontemporanea.com.br/v07/artigo.asp?artigoId=3366D2

Sandra Cinto: desenho contemporâneo e realidade




A artista Sandra Cinto traz para sua produção a desestruturação de conceitos formais, sobretudo aquele voltado para a busca das especificidades das linguagens. O ponto de encontro se dá na mente do artista. Ele compila as informações herdadas ou adquiridas para produzir uma obra que tenh sua própria identidade. O espaço expositor se insere na obra. O artista é quem conduz o pensamento para a realidade, o introduz na contemporaneidade e permite experimentações que conduzirão tanto ele como o espectador a desfrutar de um momento único.
No trabalho de Sandra Cinto observa-se que a artista cria e, ao mesmo tempo, se insere como suporte, ampliando os espaços possíveis para a existência de uma obra de arte. A efemeridade da obra se aproxima da própria existência do autor. Se o artista não é eterno, porque sua obra precisa sê-lo?A pintura dos desenhos no seu corpo que, mesmo sendo estático, é latente e torna o processo de criação mais fluido. o desenho contemporâneo está presente sob nova grafia como elemento constituinte e não como ponto de partida. O foco está na forma final, na apresentação da idéia esboçada mental ou fisicamente.
A pluralidade na produção de arte contemporânea revela a dificuldade de se estabelecer conceitos e critérios de validação artística, o que torna o processo mais reflexivo do que analítico. O processo de produção parte do indivíduo para o meio através de uma representação tangível ou não, mas cabível no entendimento de expressão como linguagem.

sábado, 1 de agosto de 2009

A identidade da obra de arte


Cada obra é uma idéia única aprisionada numa técnica por um artista! Uma vez acabada, o que esta mais evidenciado: o criador ou a criatura? No instante que o artista a expõe, confere, de certa forma, uma autonomia a obra. Seu vínculo com ela passa a ser sua assinatura. Sua grandiosidade será dimensionada pela sua capacidade de interagir com o espectador. Nesse diálogo, a diversidade de olhares produzem interpretações diferenciadas do seu significado permanecendo, tecnicamente, a mesma composição.

Esse é um questionamento a cerca da possível identidade de uma obra de arte. Com ou sem título, ela vai se inserindo na história da arte como produto de um estilo ou de uma época. Se verificarmos o procedimento de estudo de um estilo, o objeto de partida é uma obra de arte. O artista é citado secundariamente. Isso fica bem evidente quando diante de uma obra, cujas informações técnicas não lhe foram passadas, ocorre uma troca de mensagens ao observá-la. Quando essa comunicação flui quase espontaneamente, percebe-se que a obra tem vida própria.

Uma vez autenticada como tal, uma obra de arte não precisa mais de quem a fez para continuar a sua existência. Existe mesmo longe do artista ou do local que ocupa. O registro fotográfico amplia sua divulgação para um número maior de pessoas durante um tempo maior. É a tecnologia interferindo no tempo e no espaço.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A identidade do artista


Uma obra de arte contém a identidade do artista que a fez? Ou é a representação visual de uma idéia aprisionada numa técnica? Prefiro não procurar “peixinhos” e olhar para obra. Vê-la como matéria transformada por um artista dentro de um momento único.
A artista portuguesa Cátia Machado encerrou ontem sua exposição no NAC - Núcleo de Arte e Cultura da UFRN denominada "ID-Identidade". O título nos faz refletir sobre as questões implícitas numa obra de arte, tais como a identidade do artista dentro da obra de arte. O ambiente clean destaca as belíssimas fotografias tratadas digitalmente para este trabalho. O tema escolhido surgiu de uma pesquisa na Universidade de Lisboa. A partir daí, dentro de uma abordagem mais ampla, a jovem artista utiliza seu corpo como forma de suscitar a discussão sobre o que nos tornamos dentro da sociedade. Somos seres humanos ou somos números e códigos de barra? Este fato é preocupante se olharmos pelo viés reducionista do ser.
Para representar sua angústia do que nos tornamos, o processo de reflexão começa a partir de experimentos e vivências pessoais. Unindo a arte e a tecnologia produziu belas peças. O tamanho das fotografias nos davam a dimensão de como estamos presos nessa prática cotidiana que massacra o EU em função do TODOS. É Preciso ser ousada para falar artisticamente deste assunto. Esta jovem o fez. Mostrou uma das possibilidades do fazer artístico na contemporaneidade com muita qualidade. Espero que sua passagem pelo Brasil contribua para o seu crescimento profissional. Parabéns e sucesso!